Caro leitor, dando continuidade a série de artigos sobre os primórdios da aviação, que necessariamente passam pela invenção do balão e a conquista da sua dirigibilidade, chego, com certo atrevimento a um simples artigo sobre Alberto santos Dumont e sua experiência na aerostação. Refiro-me ao atrevimento, porque frente a grandiosidade do texto da autobiografia, “Os meus balões”, escrita por Santos Dumont ao longo do seu processo de pesquisas e experimentos, e publicada em Paris, pelo própio, no ano de 1904 sob o título original Dans L’air, fica patente a pobreza de um simples relato cronológico dos fatos, para que possamos entender a genialidade do inventor.

Recomendo fortemente a leitura do livro! Nele, Santos Dumont demonstra detalhadamente seu processo criativo e fica clara a paixão que o gênio tinha pela descoberta do novo. Colocadas minhas escusas pelo atrevimento, segue o artigo, que na verdade é mera montagem da linha cronológica dos acontecimentos. Boa leitura.

Nascido a 20 de julho de 1873 em Cabangu, hoje, merecidamente chamada Santos Dumont-MG. O jovem Alberto era filho do engenheiro Henrique Dumont especializado na instalação de estradas de ferro, que resolveu investir seu capital em outra atividade econômica. Aconselhado por seu sogro, Henrique Dumont opta por investir no plantio do café, para tal muda-se com a família para uma fazenda na região de Ribeirão Preto – SP, para iniciar o cultivo.

Os negócios prosperam e os Dumont passam a figurar entre os maiores produtores de café do país, quando o café era o principal produto de exportação nacional. Henrique Dumont construiu suas próprias linhas férreas para escoar a produção das suas fazendas até os portos próximos.

Mas, voltando a falar de Santos Dumont, o menino Alberto cresce rodeado por máquinas utilizadas no plantio e colheita do café, tratores da fazenda e locomotivas, as quais pilotava e ajudava a consertar. Apaixonado por máquinas e pelos novos motores à petróleo, em uma das visitas em família à Europa, em novembro de 1891, trouxera consigo o primeiro automóvel a rodar em terras brasileiras, um Peugeot equipado com motor de dois cilindros em V e potência máxima de 3,5 cv.

Em 1892, Henrique Dumont acometido de uma hemiplegia, emancipa Alberto e pede que o jovem se dedique aos estudos de física e mecânica, por que segundo ele, aí estava o futuro da humanidade. Henrique falece em agosto de 1892. Alberto, então, muda-se para Paris, detentor de uma confortável fortuna.

Em 1897, Alberto era um verdadeiro sportsman, dedicado à vários tipos de competição, dentre estas, as corridas de automóvel, das quais se tornara um talentoso e proeminente piloto. Dedica-se também à construção e manutenção de motores à petróleo, adaptando-os à vários tipos de veículos, sabidamente aos triciclos. Foi exatamente nesta época, a extraordinária Belle Époque parisiense, que Dumont toma contato com os aeróstatos e resolve realizar um voo em um dos aparelhos.

Este voo mudou completamente a vida de Santos Dumont e, por conseguinte, a história da Navegação Aérea. Menos de um ano após seu voo como passageiro, em 1898, Alberto encomenda à Casa Lachambre seu primeiro balão, o Balão Brasil. O aeróstato era minúsculo, se comparado aos seus pares contemporâneos e apesar de criticado por outros aspirantes à navegação aérea, Alberto manteve o projeto, introduzindo a seda japonesa na construção dos invólucros, técnica inovadora que trazia o material leve e resistente para a construção dos balões.

Preocupado com a dirigibilidade de seus aparelhos, Santos Dumont dedica-se agora a tornar os balões manobráveis. Fiel observador do que acontecia ao seu redor, inova e consegue suplantar seus companheiros aeronautas. Em 18 de setembro de 1898, lança o Santos Dumont Nº 1, um balão em formato de charuto com 25m de comprimento, equipado com um motor à explosão de 3 cv e com balonetes de ar, criados por ele mesmo, para controlar a pressão interna no invólucro. Foi a primeira vez que um motor a explosão foi utilizado em um balão.

Os anos seguintes são profícuos na produção e pesquisas sobre os meandros da Navegação Aérea. Santos Dumont mostra-se um inventor magnífico e muito atuante. Em 1899 lança o Santos Dumont N°2, idêntico ao N°1, alterando apenas as válvulas para manter a pressão interna. Ainda em lança o Santos Dumont N°3, alimentado com o mesmo gás que era utilizado na iluminação, menos inflamável e, portanto, mais seguro. O Nº 3 tinha um invólucro menos alongado com 500 m3 de volume. Com este balão, Alberto contorna pela primeira vez a Torre Eiffel. Para abrigar o balão inflado foi necessário construir um hangar, chamado a época de aeródromo. Foi o primeiro hangar do mundo.

Decola pela primeira vez com o Santos Dumont N°4 em 1º de agosto de 1900. O dirigível de 28,6 m de comprimento era conduzido a partir de um selim de bicicleta instalado na estrutura pendurada logo abaixo do invólucro. Possuía uma hélice na proa, motor Buchet de 7cv e um balão hidrogênio de 420 m3 de hidrogênio. Aperfeiçoamento do seu antecessor, o Santos Dumont N°5, de 1901, transportava um potente motor de 12cv e foi a primeira tentativa sem sucesso, realizada por Alberto, de conquistar o Prêmio Deutsch.

O Prêmio Deutsch, foi a prova estabelecida pelo Aeroclube de France, em 24 de março de 1900, com apoio e financiamento do empresário do ramo do petróleo Henri Deutsch de La Meurte, para confirmar se o aparelho era de fato um dirigível e consistia em decolar de Saint Cloud, contornar a Torre Eiffel e retornar ao ponto de saída em 30 minutos.

Com o Santos Dumont N°6, construído em 22 dias, no dia 19 de outubro de 1901 Santos Dumont conquistou o Prêmio Deutsch. Uma divergência de interpretação no regulamento do prêmio, fez com que a Comissão Julgadora do Aeroclube de France demorasse a proclamar Alberto como vencedor, mas a população parisiense já havia decretado que “Le Petit Santô” era o novo herói nacional. Só em novembro o prêmio de cem mil francos é pago à Alberto, que prontamente, e como forma de protesto, o divide entre seus mecânicos e os pobres de Paris.

O Santos Dumont N°7, de 1902, foi construído para corridas de dirigíveis, provido de potente motor e duas hélices e camada dupla de seda. Por motivos não descritos, Santos Dumont não utiliza o Nº 8 para batizar seus balões, alguns biógrafos alegam superstição. O fato que o Santos Dumont Nº 9, lançado em 1903 era um pequeno e ágil balão utilizado como veículo de transporte pessoal. A bordo do Nº 9, Santos Dumont visitava amigos e se permitiu pela primeira vez transportar um passageiro. Foi também com o Nº 9 que pela primeira vez uma mulher, a cubana Ainda de Acosta, pilotou um balão. A esta altura da vida Alberto Santos Dumont já era o aeronauta mais importante do mundo, reverenciado por seus pares e pelos governantes de vários países.

Em 1903, projeta um grande dirigível, o Santos Dumont Nº 10, que ficaria conhecido como ônibus, por causa de seu tamanho e da intenção do inventor em transportar várias pessoas. Em 1905 projeta o Santos Dumont Nº 11 e Nº 12, este último um helicóptero, mas não chega a concluí-los. O Santos Dumont Nº 13, também de 1903, era um dirigível híbrido, entre um balão de hidrogênio e um balão de ar quente, testado, mas logo abandonado. Chega ainda a realizar testes de dois dirigíveis, os Nº 14 e Nº 16, porém os abandona. Nesta altura, Alberto já havia iniciado seus estudos para abandonar a aerostação e assim como seus contemporâneos, partir para o desafio de fazer voar o mais-pesado-que-o-ar.

Mas, isto é história para outro artigo. Vejo você pelas aerovias, forte abraço.